Ex-lixeiro virou jogador profissional aos 23. Agora, quer ser sensação da Copa do Brasil

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Moroto Lixeiro
Morotó hoje é jogador profissional, mas não esquece as amizades do tempo de lixeiro
A Copa do Brasil é uma competição marcada pelas zebras e pelos jogadores desconhecidos que viram sensação nacional, como Cícero Ramalho, Valdiran e Bizú, só para citar três. Na edição deste ano, um dos candidatos a surpresa chama-se Sidevaldo Bispo dos Santos, tem 24 anos e joga no Real Noroeste Capixaba, clube do Espírito Santo fundado em 2008. Mas o que esse cara tem de tão especial?
Primeiro de tudo, com ele não tem essa de Sidevaldo, nem Bispo, nem Santos. O matador prefere ser chamado por seu apelido de infância: Morotó, alcunha inspirada no inseto que vive na madeira e em plantas como feijão e outras leguminosas.
"Esse apelido veio de pequenininho, porque eu jogava nos campos amadores e era fortinho, igual ao inseto. Meus amigos colocaram Morotó e desde então ficou e virou febre, espalhou pelo no mundo todo, no meu Facebook eu uso o Morotó (risos). Até minha mãe quando eu chego na Bahia me chama assim", divertiu-se o centroavante, em entrevista à Rádio ESPN.
"Minha família é da roça e sempre foi todo mundo fortinho, comíamos muita farinha de mandioca que dava uma 'sustância'", explicou.
Titular absoluto do Real Noroeste, o atleta tem uma trajetória épica na chegada ao futebol profissional. Saiu de casa ainda na adolescência em busca de trabalho, e só foi virar jogador mesmo aos 23 anos, muito mais tarde do que seus companheiros de time, por exemplo.
Entre os cargos desempenhados antes de virar boleiro, trabalhou em construção e como lixeiro. Também foi mecânico, apesar de não ter nem carteira de motorista.
"Eu vim ao Espírito Santo em busca de trabalho, aos 17 anos, Meu primeiro emprego foi como ajudante de pedreiro. Depois, trabalhei um ano e oito meses como coletor de lixo. Enquanto isso, jogava aquela peladinha no amador nos finais de semana. Em Vitória, várias firmas me contrataram quando eu era amador pra jogar em campeonato de empresas. Isso era bom pra ajudar a conseguir uns bicos", lembrou.
Durante o tempo em que trabalhou na coleta de lixo, chegou a ganhar outro apelido, que o fez virar sensação nas ruas da capital do Espírito Santo: Cheiroso.
"Quando eu passava na rua, os colegas mais resenhas me gritavam: 'E aí, Morotó, seu cheiroso!'. Eu caía na risada. Eu parava para tomar um café no meio da rua e os menininhos que estavam brincando iam lá e pegando na minha mão e me chamavam de 'Cheiroso'. Eu levava na gaitada (risos)", sorriu.
Mas o pedreiro-mecânico-lixeiro estava destinado mesmo a ser boleiro. 
"Um dia, dois caras me descobriram e perguntaram se eu não queria fazer um teste no profissional do Real Noroeste. O que você acha que eu respondi?", questionou.
Morotó, é claro, aceitou. Passou, e deixou ótima impressão logo em seu primeiro treino. Quando viu, já era titular do Real Noroeste, com um contrato de dois anos. Não demorou nada para ganhar seu primeiro título: a Copa Espírito Santo do ano passado, que deu ao time da cidade de Águia Branca (250km de Vitória) a vaga na Copa do Brasil em 2015.
"Eu nem imaginava que um dia iria conseguir ser jogador! Foi Deus quem me colocou no mundo do futebol, só pode ser. Fui artilheiro nos torneios da várzea, mas sair do mundo do trabalho para o mundo do futebol é difícil. O importante na vida é sempre manter a humildade e agradecer a todos que me ajudaram", celebrou.
"Antes, eu não tinha dinheiro nem para comprar um chinelo, às vezes andava descalço. Hoje, minha vida melhorou muito. Eu recebi uma grande educação da minha mãe, que é muito humilde, mas sempre falou para eu não beber e não roubar nada que é dos outros", finalizou o camisa 9.
A estreia de Morotó na Copa do Brasil será neste domingo, às 22h30 (horário de Brasília), contra o Atlético Acreano, fora de casa, pela fase preliminar do torneio - a volta será no dia 22 de fevereiro. Quem passar encara o Criciúma na próxima fase.

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